Dom Vicente de Paulo Araújo Matos foi o terceiro bispo da Diocese do Crato. Comandou o clero local de 1961 a 1992. Um homem injustiçado. Filho de família abastada de Itapajé, Dom Vicente tinha porte e beleza de galã de cinema. Ganhou o apelido cretino de ‘Dom Ratão’. Talvez pelo fato de possuir sempre o Opala Comodoro mais moderno da época e morar num Palácio Episcopal. Pura ignorância.
Foi ele quem fundou a Faculdade de Filosofia do Crato, embrião da Universidade Regional do Cariri (URCA). Também fundou os colégios Pequeno Príncipe e Madre Ana Couto (nos quais estudei) e o Centro de Expansão (local de retiros religiosos).

Reza a lenda de que seu Antônio Berrêdo, motorista do bispo era um homem, digamos, de poucas palavras e paciência. Certa vez, em viagem a Fortaleza no carrão do prelado, teria se dado o seguinte diálogo:
Bispo: “Olha o jumento”
Berrêdo: (silêncio)
Bispo: “Aquela mulher pode atravessar. Buzina.”
Berrêdo: (silêncio)
Bispo: “Cuidado. Essa curva ai na frente é perigosa.”
Berrêdo: (silêncio)
Bispo: “Tá muito ligeiro.”
Berrêdo, parando o carro no acostamento: “Tome, senhor bispo. Leve o seu carro.”
O Bispo riu amarelo e assumiu a direção. No resto da viagem reinou silêncio sepulcral.

Foi Dom Vicente quem me conferiu o sacramento da Crisma, numa noite de lua, na Quadra Bi-Centenário. Poucos dias antes, na estrada do Granjeiro onde eu morava, vi o bispo parar o seu carrão para dar carona a uma senhora. Ela vinha dos lados das nascentes do sopé da Chapada do Araripe com uma enorme trouxa de roupa na cabeça. O sol estava escaldante.
Naquele instante, descobri quem eram os ratos.
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