Alguma memória

Aqui vão alguns registros de memória do sertão que há dentro de mim.

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Sinos para José

No dia 5 de fevereiro de 2011, os sinos da Igreja Matriz de Nossa Senhora da Penha soaram tristes.

Por 40 anos, o carrilhão da Sé fora acionado por José Nunes de Oliveira, Zé de Zumba. Naquele dia não. A mascar seu dulcíssimo e interminável chiclete, Zé fez tocar os sinos em festas, em despedidas, para chamar os fiéis e por quaisquer outros motivos que valessem anúncio ou saudação.

Zé era uma pessoa humilde, calada, um boa-praça. Fui colega de colégio de uma de suas filhas, Fabiana, que herdou do pai a simplicidade. Sucedeu ao sacristão Vicente-Boca-Torta, cujo nome foi já coberto pela poeira do tempo. O “Zumba” era do pai, o barbeiro "Mestre Zumba", que dizem era um ás da navalha.

Vejo que a Câmara Municipal, por meio de um vereador, apresentou solicitação à Casa para envio de “nota de pesar” à família. Justo. A primeira-dama manifestou condolências através de um blog. Também justo. Até o troféu de 3º lugar do 30º Campeonato de futebol da Liga de Esporte Amador do Crato ganhou o nome do antigo sacristão.

A curiosidade me faz querer saber quem sucede a José na Catedral. Ninguém. Isso mesmo. Zé de Zumba não foi substituído na Sacristia da Sé. Achei então que havia encontrado a verdadeira (e justa) homenagem ao homem. Como nos times de futebol que resolvem extinguir do uniforme o número da camisa do craque que seria insubstituível...

Mas, não. A verdade é que a igreja mudou o rito e modernizou a celebração. Não há mais sacristão, mas sim uma “junta” que auxilia o vigário nos ofícios. Que assim seja. Mas, quem ouviu os sinos da matriz naquele 5 de fevereiro com atenção, terá escutado um ressoar abafado, como se os badalos estivessem cobertos pelo manto da Virgem da Penha.

Ah, e naquele mesmo dia, o Céu se animou com o mais sensacional repicar de sinos de que se tem notícia. Salve, Zé!

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Vida longa ao Conde

José Iranildo Nepomuceno, o Conde, não me conhece. Estudou Comunicação Social e é cratense como eu. São apenas coincidências.

Nos distantes anos 1960, Conde foi padrinho de ‘formatura’ de uma moça que concluía a oitava série no Colégio Estadual Wilson Gonçalves. Na verdade, meu pai seria o padrinho, mas compromissos de trabalho o impediram de comparecer. Iranildo quebrou o galho.

Os anos se passaram e os alunos do Estadual tresmalharam-se.

Faz alguns meses, Luis Santos, a quem conhecemos em família carinhosamente como “Luis de Dona Natinha”, me adicionou no então recém criado grupo “Só Crato”. Trata-se de uma comunidade de filhos e filhas do Crato abrigada no Facebook. Muita gente entrou, muita recordação veio a lume, muitas fotos antigas e, confesso, até alguma pontinha de bairrismo.

 Na casa de minha avó, resolvo mostrar a uma tia a novidade advinda da internet. Afinal, muitas das histórias contidas no grupo “Só Crato” são do tempo em que ela comia filhós e chupava rolete de cana-de-açúcar na Praça da Sé. Não demorou e a tia começou a identificar um aqui, outra ali. “Estudei com esta!! Olha fulano, morava perto lá de casa”, relembra saudosa.

Até que a tela se encheu com uma foto do Conde. “Meu amigo Conde. Quanta Saudade! Fulana me disse que ele morreu...” Êpa, atalhei. Se ele morreu, quem é que posta essas coisas na Web quase todo santo dia? Morreu não!!!??? “Claro que não! Veja aqui se não é ele...”

Os olhos da tia encheram-se de lágrimas. Feliz, repedia: "meu amigo Conde está vivo... e gordo!"

A internet, através do “Só Crato”, fez renascer muitas boas reminiscências de muita gente boa. E fez renascer Iranildo Conde (que nunca morreu) para Goretti Mendes, sua afilhada de formatura. Vida longa ao Conde!