Por 40 anos, o carrilhão da Sé fora acionado por José Nunes de Oliveira, Zé de Zumba. Naquele dia não. A mascar seu dulcíssimo e interminável chiclete, Zé fez tocar os sinos em festas, em despedidas, para chamar os fiéis e por quaisquer outros motivos que valessem anúncio ou saudação.
Zé era uma pessoa humilde, calada, um boa-praça. Fui colega de colégio de uma de suas filhas, Fabiana, que herdou do pai a simplicidade. Sucedeu ao sacristão Vicente-Boca-Torta, cujo nome foi já coberto pela poeira do tempo. O “Zumba” era do pai, o barbeiro "Mestre Zumba", que dizem era um ás da navalha.
Vejo que a Câmara Municipal, por meio de um vereador, apresentou solicitação à Casa para envio de “nota de pesar” à família. Justo. A primeira-dama manifestou condolências através de um blog. Também justo. Até o troféu de 3º lugar do 30º Campeonato de futebol da Liga de Esporte Amador do Crato ganhou o nome do antigo sacristão.
A curiosidade me faz querer saber quem sucede a José na Catedral. Ninguém. Isso mesmo. Zé de Zumba não foi substituído na Sacristia da Sé. Achei então que havia encontrado a verdadeira (e justa) homenagem ao homem. Como nos times de futebol que resolvem extinguir do uniforme o número da camisa do craque que seria insubstituível...
Mas, não. A verdade é que a igreja mudou o rito e modernizou a celebração. Não há mais sacristão, mas sim uma “junta” que auxilia o vigário nos ofícios. Que assim seja. Mas, quem ouviu os sinos da matriz naquele 5 de fevereiro com atenção, terá escutado um ressoar abafado, como se os badalos estivessem cobertos pelo manto da Virgem da Penha.
Ah, e naquele mesmo dia, o Céu se animou com o mais sensacional repicar de sinos de que se tem notícia. Salve, Zé!