Manezim, Sorriso, Damião, Chico, Incha-Tetê e uma infinidade de outros doidos pontificavam na ruas do Crato no meu tempo de meninice. De alguns, lembro vagamente. De outros, até dos odores que exalavam por andarem ao léo, entregues à própria sorte e ao escárnio dos meninos.
Um moleque insultava: “Chico, cadê a noiva?” Estava dada a senha. A enorme bengala era girada a esmo, não importando quem estivesse por perto. Chico era cego e a molecada aproveitava para aperreá-lo justamente quando próximo a aglomerações. Muita senhora foi atingida a bengaladas.
Manezim é o de minha mais remota lembrança. Vivia bêbado e costuma gritar o seguinte bordão: “Ô cheiro de peixe. É o puro surubim!” Isso a plenos pulmões. Nunca soube o que queria dizer, se é que aquela frase lançada ao vento tinha algum sentido.
Sorriso era uma louca de dar dó. Surda-muda, perambulava pelas ruas e, segundo contavam os mais velhos, teria botado no mundo vários filhos que haviam sido tirados dela e adotados por famílias aprumadas. Todos fruto de estupros. Tinha esse apelido por ser desdentada e parecer estar sempre a sorrir, apesar da tragédia em que viveu mergulhada.
Incha-Tetê é uma das figuras mais famosas. Dizem que era uma das "dádivas" do Juazeiro do Norte para o Crato (alguns vão lembrar do ditado que corre até hoje sobre a ingratidão daquela cidade com o Crato). Pode o doido ter o nome do próprio insulto? “Incha-Tetê”.
Jerrim, o engraxate da foto ai do lado (gentilmente cedida por W. Bernardo), ainda hoje está na ativa. Batizou-se assim, acredito eu, num misto de homenagem e admiração por Jerry Adriani, galã da Jovem Guarda. Tanto que na caixa em que carrega seus apetrechos pode-se ler: "Eu sou o Jerrim das meninas”. Um grande sujeito. Fã das velhas sessões de cinema do Cine Cassino Sul-Americano.
Éramos muitos os doidos daquele tempo.
"...Sou Jerry Adriani."