Graças ao dr. Tarcísio Pierre – otorrino dos bons e bom amigo da família – tenho preservadas as minhas amígdalas. Menino, eu vivia em intervalos entre uma crise de garganta e outra. Febres altas, garganta fechada, sempre doendo, dificuldade de engolir. Pus. Anos a fio, minha mãe fez cerrada campanha por uma cirurgia para extrair minhas amígdalas. O doutor foi contra, dizendo que, na adolescência, as crises sumiriam (de fato, sumiram).

Como morávamos fora da cidade e o transporte era muito ruim, recorríamos a uma vizinha moradora de um sitio próximo. Dona Neuza era esposa de um bodegueiro, dona de casa que, sabe-se lá por quais desígnios, aplicava injeções. E como aplicava!
Para eu-menino a tortura começava no trajeto até a casa da velha senhora, que tem a voz mansa e um sorriso gostoso de avó bonachona. Cerca de 500 metros de calvário. Depois, vinha o ritual da preparação do aparelho de vidro, que não era descartável. Tudo era esterilizado dentro do próprio estojo da seringa. Lembro da chama do álcool, do algodão frio limpando o lugar da agulhada no bumbum.
Dona Neuza, depois de viúva, mudou-se para outro estado. Deixou de herança um velho pilão, do qual sai a paçoca mais deliciosa do mundo. E as minhas amígdalas intactas.
Antes mil e quinhentas injeções com o cão preparando para aplicar em mim, do que essa maldita banha de galinha que também na minha infância existia por Fortaleza. Nã. Bjs.
ResponderExcluirOdeio injeção, trauma causado por um série de benzetacil que tive que tomar quando era pequena, uma delas aplicada por D. Neuza. Acredito meu irmão que vc deve ter tomado algumas injeções c/ Sro. Luiz Cocão. Da casa de D. Neuza nada mais resta além das boas lembranças.
ResponderExcluirSim, Henrique,
ResponderExcluirPáginas bem elaboradas e essenciais à preservação de tudo quanto de bom viveu. Parabéns pelos textos e assuntos. Vida longa ao seu trabalho. Aprecio tal tipo de literatura, a mãe de todas as outras.
Abraço.