Cresci numa família católica. Católica praticante, é preciso frisar. Melhor: família de mulheres católicas autênticas. Os homens eram de uma fé protocolar. Meu pai nos levava à missa aos domingos e ficava no patamar da Catedral da Sé conversando e esperando o tempo passar. Meus avôs - tanto paterno quanto materno - eram homens de poucas rezas.
As mulheres não. Rezavam terços e novenas. Maria Grande nunca tirava o rosário do pescoço. Acompanhavam procissões com as crianças levadas pela mão. Dois tios até foram internos no Seminário São José, mas não prosperaram na vida eclesiástica. Tenho certeza de que se o mais velho deles tivesse mantido a batina, o Brasil teria o primeiro Papa da história. Hoje é advogado. Nunca vi tanta lábia num só cristão. Casou umas seis vezes e ganhou dos irmãos o apelido de Pantaleão.
No tempo de meus avós, no sertão se rezava pedindo proteção contra a seca, a peste e o comunismo. Luis Carlos Prestes e sua coluna eram ameaças reais. Comiam crianças!
Meu pai é um dos poucos homens que conheço que se converteu à fé católica. Sim por que geralmente as pessoas saem da Igreja Católica para as pentecostais para aceitar Jesus. Ele não: aceitou ali mesmo. Deixou a calçada da igreja quando percebeu que a porta estava aberta como os braços do Cristo na cruz.
Isso fez a diferença nas nossas vidas. Passamos a ouvir semanalmente pregações de homem que considero até hoje um poço de sabedoria: monsenhor Antônio Feitosa. De cultura vastíssima, ele próprio se dizia um convertido. Sim, convertido pelo Concílio Vaticano II, que o fez ver a importância do leigo, das coisas simples da vida em comunhão. Nesse tempo, solidificou-se em mim o gosto pela leitura, que começou pelo Antigo Testamento e suas histórias fantásticas.
Fui batizado na Igreja de São Vicente. Primeira Eucaristia foi na escola (foto), com padre que, fiquei sabendo depois, não era assim um celibatário exemplo. Ia à missa na bela Igreja de São Francisco. Depois na Sé. Procissões, jejuns, Finados. E a festa de Nossa Senhora da Penha, a padroeira. Contudo, sempre que me aperreio por algum motivo, peço a minha mãe que reze por mim. Por que, se os santos não a ouvirem, a mim mesmo é que não vão atender.