Padre Coringa, vigário de Farias Brito (município vizinho do Crato), foi um sobrevivente. Resistiu às secas, à extrema pobreza, às doenças de infância e, sobretudo, ao preconceito. Seu humor desconcertante provocava situações que merecem relevo. Num desses casos, estava o vigário numa beira de estrada, à espera de transporte para o seu município. Caminhoneiro parou e disse: “sobe ai, neguim". O padre agradeceu e se pôs sobre a carrada de lenha, debaixo de sol escaldante. Ao apear em frente à igreja, o motorista percebeu que se tratava do vigário do lugar e quis desculpar-se. Não precisava. Ele, Coringa, é que fez questão de agradecer a 'gentileza da carona'.
Noutra situação, o padre lavava o seu carro defronte à casa paroquial. Sujeito o abordou de forma indiferente: "É aqui a casa do Padre?" "Sim, senhor", respondeu Coringa. "Neguim, sabe dizer se ele tá em casa?". "O senhor pergunte lá dentro, por favor". Não seria tarefa fácil descrever a cara de surpresa do sujeito branco ao saber que o 'neguim' era o padre.
Imagino a mão preta entregando a hóstia branquinha...e alguns ‘fiéis’ tendo de engolir junto o preconceito.
Nunca me esquecerei dos seus exemplos de humildade. Que a sua vida sirva de mote para que cada um nós procure abolir do coração essa coisa terrível chamada preconceito.