A foto ao lado, que surgiu numa rede social por obra e graça da amiga Diana Feitosa, me trouxe uma recordação especial do tempo de menino solto, sem “peias nem chocalho”, como costumava dizer meu pai. O grupo da foto era o que se reunia nos gramados dos vizinhos Paulo Leonardo ou Dulcilene Landim pra correr atrás da bola.
Ai vem o
tempo, mais traiçoeiro companheiro de jornada de nós meninos: um vai estudar no
recife. Outro migra pra Fortaleza. Um morre. Aquele acolá tem de trabalhar
mesmo ainda imberbe e abandona os rachas de fim de tarde. Dispersamo-nos.
Mas, tinha
uma outra galera, que rachava sempre aos domingos, no Parque Granjeiro. Era o
time formado quase todo por membros de uma mesma família: filhos, sobrinhos e netos
de seu João Hosana. Homem simples, ‘morador’ das terras do Engenho de Aderson
Tavares Bezerra, hoje desativado.
Entrei para
o time por acaso. Estava na estrada fazendo não sei o quê numa manhã de domingo,
quando a equipe passou. O grupo dirigia-se ao Parque Granjeiro, onde disputaria
com o rival de lá uma partida que, se a memória não me falta, era revanche.
Me chamaram
pra compor a equipe. Não pensei duas vezes. Formava com João Azul (líder do
grupo), Turil, Narcélio Cão-Amarrado, Robô de Lata, Pantico e Babilônia, único
branco da equipe além de mim. Na verdade, Babi era louro. E outros, a quem o
tempo fez o favor de embaçar na memória.
O uniforme
era precário. Apenas uma camiseta branca de algodão com a numeração escrita com
pincel. Ganhei a camisa 11. Joguei como nunca naquele dia e marquei quatro
gols. Perdemos por 11 a nove. Sai de lá com apelido de Júlio César, que era o
ponta esquerda bom de bola daquele tempo.
Onde
estarão todos eles? João Azul, o negro simpático e boa gente que liderava o grupo?
Toicim? Oswaldo Robô de Lata, Narcélio (se gritassem: “Soltaram o cão!” era
capaz de haver uma morte), Pantico, Babilônia... perderam-se no tempo. Soube depois
que alguns deles haviam migrado pra São Paulo, no início dos anos 1980.
Nosso
campinho de terra batida, onde se jogava descalço, não existe mais. Há casas no
lugar e o Parque Granjeiro virou um aprazível bairro. Tomara que ainda haja meninos por lá. E uma
bola no meio deles.