Alguma memória

Aqui vão alguns registros de memória do sertão que há dentro de mim.

sábado, 16 de abril de 2011

"Se essa rua, se essa rua fosse minha..."

Em 15 anos, Fortaleza se tornará uma senhora de três séculos. O que eu posso fazer nesse tempo pra que esse torrão que me acolhe há quase 25 anos seja um lugar melhor? Esse é o sentimento que me invade na data de... hoje. Sim, pois tendo enterrado o umbigo no Crato, foi esta cidade que me acolheu retirante.

Acolhimento num tempo que era outro, bafejado ainda por uma longa ditadura, mas com ares libertários. Afinal, foi Fortaleza que elegeu uma mulher, de esquerda. Era tempo de incerteza.

Morei numa pensão no Centro (Floriano Peixoto com Clarindo de Queiroz). Depois, já nos bancos da UFC, na Residência Universitária (Tristão Gonçalves com Travessa Quixadá, por trás do Teatro Universitário). Tempo rico, de muito aprendizado. Tempo em que passei a me interessar mais fortemente pela cidade. Busquei nos livros, na gente mais velha e nos jornais impressos a alma da cidade.

Talvez tenha encontrado algo desta alma ao palmilhar a Fortaleza que vai além da Aldeota, além do shopping center e do escurinho do cinema. A Fortaleza real se encontra na bodega do bairro, na feira, no Centro que fervilha de gente. O que posso fazer por ela nesses próximos 15 anos? Que cidade deixarei para os meus filhos, que são fortalezenses? O que mais perderemos, se já perdemos tanto? Por que essa ânsia de nos tornamos iguais às grandes cidades do mundo com lanchonetes tipo fast food ao passo em que deixamos pra trás o pega-pinto e a bananada? Aonde foram parar os cajueiros botadores? Pecado? Hoje tem em qualquer esquina, sem graça nenhuma. Sem pão, espíritos morrem à mingua. 

Personagens como Chagas dos Carneiros, Zé Tatá, Burra Preta, o prórpio Iôiô... Gumercino, que seja, pra citar um mais recente. Quem seriam nossos "tipos" de hoje? Ê, Fortaleza. Metrópole não acolhe tipos populares... A não ser nos bairros, onde a vida se realiza. São 5h40 da manhã. Na Sapiranga onde moro, um sabiá saúda a aurora que inrrompe cinzenta. A imagem de hoje é apenas o registro de tudo que poderia ter sido e que não foi. 

"...É porque te quero bem."

Fortaleza, 13 de abril de 2011.

Um comentário:

  1. Santos Dumont ou sejá lá que nome já tenha tido, é uma das ruas mais marcantes p/ nós pois foi onde nossos pais se conheceram. Todos os dias, na hora minha mãe e minha tia Socorro irem p/ escola,"por coincidência" meu pais varria a calçada do FC Pierre onde trabalhava, ela cara dura como é atravessava p/ o outro lado fazendo de conta que não o via... Eita Toinha dificil.

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