Manoel de Castro Filho foi governador do Ceará entre 1982 e 1983.
Vice do coronel Virgílio Távora, assumiu o Executivo quando o
coronel saiu para o Senado.
Exatamente em 1982 tive meu primeiro contato com a política.
Jósio de Alencar Araripe (pai dos Jornalistas Flamínio e Zínia
Araripe) e Valmir Farias eram os candidatos do MDB à Prefeitura do
Crato. Acredito que contra Ariovaldo Carvalho, capitão do Exército,
hoje na reserva. Naquela época só existiam dois partidos políticos:
Aliança Renovadora Nacional -Arena (nas versões 1 e 2) e o
Movimento Democrático Brasileiro (MDB).
Lembro de um comício cujo palanque era um caminhão. Não havia
nem uma centena de pessoas a ouvir os discursos (incluídos os
bebinhos). Foi defronte à bodega de João Nogueira, também
aguerrido oposicionista do Bairro Pinto Madeira (Caixa Dágua). Era
João quem guardava as facas dos matutos nos dias em que havia festa
no salão da Igreja de São Sebastião, que ficava bem em frente à
bodega.
Voltando à política: o lema da campanha da oposição (MDB) dava
uma pista da dificuldade de vencer o poderoso esquema governista:
“Vai dar Zebra”, numa alusão à zebrinha da Loteria. Fato é que
não deu zebra nenhuma, e os “comunistas”, perdemos. Lembra
Flamínio: “Os panfletos distribuídos de madrugada nas casas na
eleição no Crato diziam que os ‘comunistas’ comiam criancinhas.
No máximo elegiam um vereador.”
Anos após o comício, ouvi o então candidato Jósio Araripe
lastimar: "Um dia desses eu estava sozinho e cima de um
caminhão. Ontem, não tinha lugar pra mim no palanque, lotado de
cristãos novos." Com a morte de Tancredo Neves, José Sarney
havia assumido a presidência, agora pelo PMDB. E, com ele, uma leva
de ‘cristãos novos’.
Na foto acima estou eu a discursar na formatura do ABC de uma
turma que não era a minha. É que o governador Manoel de Castro, que
não tinha muito o que fazer a não ser empregar parentes no governo,
estava presente à solenidade e eu, segundo Madre Feitosa, diretora
da escola, era “desenvolto em leitura”.
Agora estamos em 2011, distantes daqueles tempos de ditadura
militar, de Lei Falcão e de medo, muito medo. Vivemos o chamado
estado democrático de direito há mais de duas décadas. As
instituições funcionam e, segundo dizem os especialistas nas folhas
de jornais, se aperfeiçoam a cada dia.
O menino desenvolto em leitura hoje escreve uma linha ou outra,
aqui e acolá. E ainda espera a zebra que nunca houve, enquanto
observa novas e sucessivas ondas de cristãos novos sobre os
palanques de sempre.
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