Alguma memória

Aqui vão alguns registros de memória do sertão que há dentro de mim.

sexta-feira, 1 de julho de 2011

Lugar encantado

Em recente passagem pelo Crato acabei por me dar conta dos muitos lugares da minha infância que desapareceram. Isso mesmo: sumiram na bruma do tempo. Seja por ação de um administrador desastrado, seja pelo pesar dos anos a corroer a memória das gentes e a cobrir de pó as marcas antigas que caracterizavam o lugar. Sumiram.

Um dia deu na veneta de um prefeito alargar uma rua. Em pouco tempo foi abaixo o mais belo conjunto de fachadas da cidade, com seus azulejos portugueses, fachadas coloniais e muito da história do lugar. O Bar do Alagoano, ali na esquina da Praça da Sé, foi junto. Antes disso, muito antes, a casa de dona Bárbara de Alencar dera lugar a prédio público da coletoria estadual.

O antiquíssimo mercado Redondo virou prefeitura. O outro mercado, da rua Formosa (que virou Santos Dumont) foi demolido para dar lugar ao aglomerado de barracas de papelão e plástico a que se chama “Camelódromo”. Um casarão secular saiu de cena para que o Banco do Nordeste, com sua fachada envidraçada, surgisse na ribalta da modernidade. São muitos os exemplos.

Mas há casos em que os lugares, em vez de sumirem, se encantaram. É o caso da Ponte das Piabas, no Rio Granjeiro. Da ladeira do Castelo (a ‘descida na subida’ do Granjeiro. Está lá até hoje, mas saberão seus caminheiros o seu nome original?). São lugares simplesmente sublimados no tempo do coração da gente. O riacho Jacó - afluente do Batateiras que corre pro Salgado que faz o Jaguaribe grande – está lá. Eu sei disso. É o rio da minha aldeia.

O Jacó, apesar de muito agredido por anos a fio, permanece na extrema do sítio de minha família com as terras do engenho de Antuérpio de Melo (esse também um lugar que desapareceu, com canavial e tudo). Nesse tempo de estio, estará seco o Jacó. Mas, na primeira chuva, voltará a descer com estrondo, com sua água barrenta a escorrer entre as pedras. É no encantamento desse lugar que eu confio.

2 comentários:

  1. Os lugares mágicos da minha infância desapareceram... fazer o que, né? Visitá-los na memória.

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  2. Continuamos encantados com os lugares mágicos que marcaram nossa infância e adolescência. Eles estão em nosso imaginário, lembranças. o triste, Henrique, é que nossos filhos não têm a oportunidade de desbravá-los. No meu caso, vão a Saboeiro e não entendem o meu lamento de coisas perdidas e dos ambientes destruídos que tanto fizeram a minha infância e adolescência.

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