Alguma memória

Aqui vão alguns registros de memória do sertão que há dentro de mim.

sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Penha


A festa da padroeira da minha cidade acontece em agosto. Termina no 1º de Setembro, quando se davam vivas a Nossa Senhora da Penha e os católicos saiam em procissão. Talvez ainda saiam. Lembro de janelas enfeitadas com flores e toalhas rendadas na Rua da Pedra Lavrada. Mulheres usavam véus na cabeça enquanto debulhavam rosários de contas. Benditos eram entoados.

Mas, o que me encantava naquele tempo de meninice era a quermesse. Nem o parque, com seus carrosséis, rodas-gigantes e maçãs-do-amor me atraíam mais. Nem “Monga”, a mulher-macaco. Ao lado da Igreja Matriz, montava-se o barraca da Diocese.  Ali aconteciam os leilões e, nos leilões, as disputas por prendas prosaicas.

Quando meu pai engajou-se na igreja – no chamado ‘movimento leigo’ – passou também a “administrar” o bar da barraca da Diocese, onde aconteciam também os leilões. Acho que a escolha deveu-se à sua grande experiência pretérita com bebidas. Fato é que tudo ia bem. Eu ficava por ali, peruando, comendo churrasquinho com refrigerante, pipoca, rolete de cana.

Certa noite, o comerciante e amigo Luiz Manoel de Oliveira disputava uma galinha assada com alguém de quem  não me lembro. Apenas sei que o camarada era irritante. A cada lance de seu Luiz, a criatura acrescentava R$ 0,50. Os leiloeiros eram José de Paula Bantim, um brincalhão de marca maior, e “Biloto”, sujeito que percorria as mesas oferecendo a prenda a arremate.

Mais um lance de R$ 0,50 centavos e vinha o grito: “R$ 100,50 que é pra seu Luiz não comer frango hoje!”. Seu Luiz já estava vermelhinho: de rir e de umas e outras que havia tomado. E tascava: "R$ 110,00...R$ 110,50...R$ 120,00... R$ 120,50..." E a galinha ficando cara.

Juro que não me recordo por quanto saiu a penosa, que era oferecida envolta em papel celofane laranja.

Mas, lembro que, logo após ao “Dou-lhe uma, dou-lhe duas, dou-lhe três...Tô entregando, já entreguei” (claro que na mesa de seu Luiz), o safado do ‘Biloto’ tomou o microfone das mãos de Bantim e saiu-se com essa:

“Eita! Galinha desse preço só quem come é Luiz Manoel e galo!!”

Até a virgem da Penha corou.

Um comentário:

  1. Louco! Muito bom, seu Henrique. Cada post teu se explica mais a gaiatice de sua pessoa e o Cariri que carrega consigo. Beijos.

    ResponderExcluir