
O sertão, quem acompanha o blog sabe, sempre trago comigo e em mim. Não importa a ocasião nem o lugar.
Explico: edição nos seus ‘finalmente’ me chega o editor do jornal com papel contendo um enorme X de caneta sobre o texto impresso. Lacônico: troque isso ai. Era a cabeça da coluna editorial do jornal, que não é assinada e, portanto, tem importância toda especial, pois a empresa assume as informações que ali estão publicadas. Além da abertura da coluna as duas notas seguintes também caíam, já que eram coordenadas com a nota principal
Lula acabara de ser eleito presidente da República pela primeira vez. O dia seguinte, 13 de dezembro, seria aniversário de 90 de nascimento de Luiz Gonzaga.
Saiu o texto que se segue:
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“O eterno Gonzaga
Hoje é dia de pegar a estrada para Exu. Dia de festejar. Seu Luiz faria 90 anos. O caboclo vai encostar os ferros de tardezinha, depois de chiqueirar os bezerros, selar seu melhor animal e partir para a cidade. Vai ouvir Dominginhos entoar as canções imortalizadas pelo velho Gonzaga.
Talvez não saiba, roceiro humilde que é, que aqueles versos, aquelas melodias, aqueles acordes também imortalizam a alma sertaneja (por que sertão é dentro da gente, já dizia Guimarães Rosa).
Vai caboclo. Vai que a noite já vem. Vai homenagear aquele a quem todos chamam de rei. Que se tornou Luiz por inspiração da santa do dia; que cantou o sertão por que viveu o sertão, brotou no sertão; e que, mesmo sendo rei, nunca deixou de fazer reverência a Januário, seu pai.
Festa
E o caboclo vai. Não tendo montaria vai à pé: ...‘‘Mas o pobre vê nas estradas, o orvaio beijando a flô/ vê de perto o galo campina, que quando canta muda de cor/ vai moiando os pés nos riacho, que água fresca nosso Senhor/ vai oiando coisa a grané/ coisa que pra mode vê, o cristão tem que andar a pé’’.
Inspiração
Que a lira de seu Luiz sirva de inspiração para outro pernambucano Luiz. O futuro presidente tem pela frente uma légua tão tirana quanto a enfrentada por Gonzaga. Vencer a fome, a precisão, a dependência da chuva... Botar o sertão num mapa que não seja o da miséria. De onde estiver, seu Luiz estará contente ao ver seu povo feliz.”
Hoje é dia de pegar a estrada para Exu. Dia de festejar. Seu Luiz faria 90 anos. O caboclo vai encostar os ferros de tardezinha, depois de chiqueirar os bezerros, selar seu melhor animal e partir para a cidade. Vai ouvir Dominginhos entoar as canções imortalizadas pelo velho Gonzaga.
Talvez não saiba, roceiro humilde que é, que aqueles versos, aquelas melodias, aqueles acordes também imortalizam a alma sertaneja (por que sertão é dentro da gente, já dizia Guimarães Rosa).
Vai caboclo. Vai que a noite já vem. Vai homenagear aquele a quem todos chamam de rei. Que se tornou Luiz por inspiração da santa do dia; que cantou o sertão por que viveu o sertão, brotou no sertão; e que, mesmo sendo rei, nunca deixou de fazer reverência a Januário, seu pai.
Festa
E o caboclo vai. Não tendo montaria vai à pé: ...‘‘Mas o pobre vê nas estradas, o orvaio beijando a flô/ vê de perto o galo campina, que quando canta muda de cor/ vai moiando os pés nos riacho, que água fresca nosso Senhor/ vai oiando coisa a grané/ coisa que pra mode vê, o cristão tem que andar a pé’’.
Inspiração
Que a lira de seu Luiz sirva de inspiração para outro pernambucano Luiz. O futuro presidente tem pela frente uma légua tão tirana quanto a enfrentada por Gonzaga. Vencer a fome, a precisão, a dependência da chuva... Botar o sertão num mapa que não seja o da miséria. De onde estiver, seu Luiz estará contente ao ver seu povo feliz.”
Essa história estava na gaveta do esquecimento até que um dia, através de uma rede social, a jornalista Samira de Castro me pediu para escrever alguma coisa sobre seu Luiz. Sem inspiração no dia – que não era mais de fechamentos – fui atrás da coluna redigida há quase 10 anos. E me lembrei de como é importante o cabôco ter os pés no chão. Que é pra mode ver as coisas como elas realmente são.
Meus pés estão tão fincados no chão que, às vezes, os tornozelos doem. Por isso uma das minhas maiores dores é sempre estar vendo as coisas como realmente são, por mais que eu queira não ver, sonhar um 'cadinho'. Às vezes, muitas vezes, na verdade, eu queria tanto voltar a ser a nova aprendendo com os mais velhos, com os mais sabidos, com os mais antigos no lugar,viver o mesmo sonho com os amigos. Às vezes não é só ter pé fincado no chão que dói não: ter saudade também. Beijos, Kranho.
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