Alguma memória

Aqui vão alguns registros de memória do sertão que há dentro de mim.

segunda-feira, 16 de maio de 2011

Pedagogia do cipó

Tempo para refletir. Era assim que meu pai chamava o intervalo necessário para ir até o mato, quebrar o cipó de mameleiro e trazê-lo de volta. Era missão terrível: escolher o cipó com o qual iria tomar uma sova. O arrependimento tomava conta. Não devia ter feito isso, não devia aquilo... mas, já tinha feito. Sova.

A pedagogia moderna condena o castigo físico. “Relho não é santo, mas obra milagres”, ensinava meu pai. Eu sou prova disso. A surra mais injusta de que tenho notícia foi a que não levei. Claro que ninguém gosta. Mas, foram os corretivos que me ajudaram a me aprumar na vida.

Criaram até a ‘Lei da Palmada’, que proíbe castigo aos pequenos. No tempo de eu menino éramos apenas dois filhos. Depois vieram os outros dois. Minha irmã sempre foi birrenta. Em caso de brigas, apanhávamos abraçados. Era para a gente “aprender a ser unido”. Ela hoje é umas pessoas a quem mais eu quero bem.

Dia desses cheguei a casa para o almoço meio fora de hora. Meu filho caçula estava na mesa da sala de cara emburrada diante dos livros. Tentei estimulá-lo. Até a hora em que ele desferiu forte pancada na mesa, de punhos cerrados.  Na falta do cipó, foram quatro chineladas.

Há duas semanas recebi o boletim do moleque. A menor nota é 9,8. E eu constatei que relho não é santo, mas continua obrando milagres.


Um comentário:

  1. Nunca apanhei de meu pai, já minha mãe era amiga inseparável da palmatória, que adorava as minhas mãos. Confesso que aprendi mais com o olhar de meu pai

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