A palavra “aceiro” é assim definida pelo dicionário: “s.m. Espaço desbastado de vegetação, que se abre em torno das residências rurais ou à margem de um trecho conflagrado por incêndio nas matas, para impedir a propagação do fogo.” Diz a recomendação dos técnicos que a largura dos aceiros deve ser duas vezes e meia a altura da vegetação. Mas, isso pouco importa.
No sertão as palavras tem sentido maior, transfigurado até. Aceirar vai além de impor margem para conter o fogo. “Funlano tá aceirando a filha de seu sicrano. Se ele descobre!” Aceirar passa, então a ser o que na cidade um dia se chamou flertar, depois paquerar e, hoje, acho, “azarar”.
Valdemar é um primo distante de minha mãe nascido e criado no Sítio Palmeirinha, que fica por trás do Colégio Agrícola. Homem da roça, tem uma família numerosa e trabalhadora. E pura. Um dos rebentos de Valdemar, Antônio, passou temporada no sítio da minha família. Meu pai, já aposentado, resolveu criar duas vaquinhas para ter leite, coalhada e queijos frescos, além de ter o que fazer, é claro. Antônio ajudava. Eram os anos 1990. Eu já havia arribado do Crato.
Antônio era um doce de rapaz. Um dia, vendo tevê com meu irmão, deu-se o seguinte diálogo (era um filme de naufrágio ou coisa que o valha. Certo é que havia uma pessoa num barco no meio de mar, perdida). Meu irmão perguntou: “Antônio, se fosse tu, assim no meio do mar e o barco afundasse... O que tu fazia?”
Salve Antônio de Valdemar! Salve a inocência que (ainda) se encontra no sertão!
Como me esquecer desse dia, quase morremos de rir. Tenha certezq que passado os anos eles continuam puros e sem maldade alguma.
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