A matança do porco é um dos dias mais especiais da tradição rural alentejana. É um dia de festa, um dia “bem comido e bebido”! Muitas famílias do mundo rural criam o seu porco durante meses, e chegado o inverno procedem ao seu abate.
O texto acima foi retirado da página eletrônica do Museu Municipal de Estremoz, região do Alentejo, Portugal (http://museuestremoz.blogspot. com/2010/01/peca-do-mes- matanca-do-porco_20.html) e me surpreendeu pela semelhança com tudo o que vivi na minha infância.
Galinhas, ovelhas, porcos faziam parte da rotina de menino de sítio. O abate desse animais também. As galinhas eram (e ainda são) as mais comuns. Não há como contar as vezes que segurei no pescoço da penosa para colher o sangue destinado à cabidela, que se chamava “molho pardo” naquele tempo.
Pelo porte do animal e pelo escândalo que patrocinam na hora do abate, foram os porcos que me marcaram mais fortemente. A matança ocorria sempre num domingo, bem cedinho. Era preciso aproveitar a folga do meu pai, que trabalhava até no sábado. Quando acordava, a água já estava borbulhando no fogo de lenha e “os ferros” já estavam amolados. Para tranqulizar o bicho, fazíamos cócegas nos vazios (próximo à barriga).
Em seguida vinha a pancada entre os olhos e a facada na jugular. O sangue jorrava forte e era preciso mexer para não coalhar. Os gritos do bicho iam diminuindo na medida em que a vasilha se tingia de rubro. Estava garantido o chouriço.
Depois de pelado, era preciso pendurar o bicho de cabeça pra baixo, pelos mocotós. A barriga era então aberta com cuidado para não se danificar o fato. Lavar as vísceras era tarefa de mulher. Nessa hora, eu me encarregava de levar miúdos para a cozinha.
Terminado o serviço, era hora lavar o local para evitar moscas. Depois, esperar uma linguiça caseira, um guisado, ou um pernil na brasa.
Da matança alentejana, só não herdamos a tradição do vinho, providencialmente substituído por uma boa cachacinha.
Ah, a palavra “alguidar”, ainda hoje é usada comumente lá em casa, junto com muitos outros termos igualmente herdados do português antigo. Mas essa já outra história.
Agora fui bem longe. Eu me lembro bem dos porcos rosados, enormes e barulhentos à espera do abate. Mas a imagem mais marcante é dos bois e carneiros pendurados de cabeça pra baixo, sangrando, com meu avô do lado, faca em punho. Depois vinham os panelões no fogão à lenha, cabeça do carneiro servida pros homens e os buchos sendo preenchidos e costurados pelas mulheres. E depois de tudo a meninada fazia a festa comendo tijolinho.
ResponderExcluirLembro de, ao lado de minha mãe, encher linguiça de madrugadinha. Não tem Sadia ou Perdigão tão gostosa.E o chouriço, nunca mais tive notícia.
ResponderExcluirPrazer receber você aqui, Luciano.
ResponderExcluirAve, Henrique. Em algumas coisas - muito maisque esse caso - vale é prazeiroso ser mulher e mais nova dos filhos. Sempre ouvi esse barulho todinho, do bicho gritando de madrugada, mas graças a Deus nunca participei efetivamente do fato. Nã! As galinhas criadas no quintal, quando a mamãe matava eu não comia em consideração à bichinha, porque me apegava.
ResponderExcluirEri, no sertão não dá pra ter esse tipo de apego.
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