Alguma memória

Aqui vão alguns registros de memória do sertão que há dentro de mim.

sábado, 7 de maio de 2011

Doces bárbaros

Seu Lunga ganhou fama de bruto e essa fama ganhou o mundo. Quero dizer aqui uma coisa: Lunga na frente de outras “peças” que pontificaram no Cariri é um cordeiro. Bill (assim como todo Francisco é Chico, Severino é Bill no sertão), Pão Doce e Zé Lopes estão no alto do panteão da ignorância  cratense (dizem alguns que meu pai também é meio brutinho mas, como convivemos desde sempre, me acostumei e acho tudo muito natural). 

Pão Doce foi colega de Tiro de Guerra de Meu Pai. Esquelético. Não, um “mané-mago”. Um dia, o sargento que dava a instrução física, castigou a turma com incontáveis voltas correndo em torno do campo de futebol. Depois, passou um sabão. Chamou-os de frouxos e outros adjetivos menos nobres. Por fim, desafiou: “Sou um homem maduro, que serviu na caserna! Agora, apareça um de vocês pra fazer exercícios comigo!”

A turma inteira ficou paralisada. Pão Doce, que mal respirava após o castigo imposto à turma, deu passo à frente e disse: “Proto, sargento”. A turma entendeu a senha e cercou o militar, que sacou da arma e ordenou “última forma!” Todos dispersaram. E o sargento escapou de uma sova.


Zé Lopes era comerciante de gado em pé. Comprava rezes e as vendia para o abate. Reza a lenda que um dia de setembro, numa das estradas vicinais que corta a Chapada do Araripe, ele foi visto puxando uma rês para dentro de um fusca. Isso mesmo, um novilho, pequeno é verdade, devidamente laçado numa corda caroá, era puxado para entrar no fusca, que estava sem o banco do passageiro para aumentar o espaço.

Alguém que passava gritou: “Cabe não, seu Zé!” E ele: “Esse fdp, entra! O 
outro não entrou?” 
                                                                                                              
Vixe, ia esquecendo de seu Bill, que é do pior tipo de bruto que há: o dócil, educado até. Pode-se se dizer dele que... “homi rá se lascá!”

PS. Esse é o meu panteão. Há outros, muitos outros!

Um comentário:

  1. Você narrando aqui essas histórias é muito interessante, engraçado. Mais interessante, entretanto, é ouvir você contando, com esse seu "jeitinho" também embrutecido de quem rebolou um monte de macaúba fora só porque não vendeu. Contar as histórias e dar sua risada gaiata no final é o que acaba transformando você também num desses tipos do homem do sertão. Gente que vale a pena conhecermos só para encher o embornal da vida de histórias para contar. Bjs.

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