No Planalto Central procurava em toda parte algo que me remetesse ao torrão natal. Lembro da emoção de ver, na gôndola de uma livraria da Rodoferroviária, o Cante Lá, que eu Canto Cá, de Patativa do Assaré. Com o coração apertado folheei o livro lentamente, como à procura de algo, procura de mim mesmo talvez.
Custeado por uma tia altruísta, fazia cursinho num dos principais colégios do DF. Foi ali que encontrei Amanda Régis. Claro que não a mesma moça que, via twitter, expôs ontem, a estupidez de muitos. Sim, pois há muitas Amandas. Sempre houve.
Na escola candanga, dentre várias pessoas bacanas, de vários estados brasileiros, uma gaúcha era a amanda (assim mesmo, minúsculo, pois Amanda aqui vira adjetivo). Filha de militar transferido a serviço para BSB, ela execrava o Nordeste e os nordestinos. Éramos, no entender da moça, recém-saída da adolescência, o motivo do atraso da Nação.
Lembro de teimas intermináveis. Os argumentos dela eram amandianos, é claro. Mas, num dia qualquer, o bate-boca pendeu para o campo das artes. Ela, sempre arrogante, tascou: “Quando o Nordeste irá dar ao Brasil uma Elis Regina? Quando dará uma canção do quilate de “Como Nossos Pais (era a música da vida da moça)”. Ai eu entrei com os dois pés, numa voadora na altura do pescoço: “Êpa!! Perai que essa música é de um cabeção nascido e criado no sertão do Ceará. Chama-se Belchior. E é apenas mais um dos bons artistas que temos por lá”. Nocaute.
Esse texto é dedicado a todos os que sofreram ou sofrem qualquer tipo de preconceito. E às amandasrégis bem-nascidas, que se acham superiores e reproduzem preconceitos como fizeram os seus pais.
Muito bem colocado, Henrique! Eu sou carioca, flamenguista, mas fui criada no Nordeste, abraçada pelo povo nordestino, tudo o que tenho na vida foi o nosso Ceará que me deu: profissão, formação, marido e filha. Tenho orgulho de me chamar de nordestina, de ter o sotaque arrastado como o desse meu povo. E é isso. Somos tudo de bom!
ResponderExcluirQue belíssimo texto, parabéns amigo! Estou sem palavras para descrever sobre tanta coisa escrito em tampoucas linhas!
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