A festa da padroeira da minha cidade
acontece em agosto. Termina no 1º de Setembro, quando se davam vivas a Nossa Senhora da
Penha e os católicos saiam em procissão. Talvez ainda saiam. Lembro de
janelas enfeitadas com flores e toalhas rendadas na Rua da Pedra Lavrada.
Mulheres usavam véus na cabeça enquanto debulhavam rosários de contas. Benditos
eram entoados.
Mas, o que me encantava naquele tempo
de meninice era a quermesse. Nem o parque, com seus carrosséis, rodas-gigantes
e maçãs-do-amor me atraíam mais. Nem “Monga”, a mulher-macaco. Ao lado da
Igreja Matriz, montava-se o barraca da Diocese. Ali aconteciam os leilões e, nos leilões, as
disputas por prendas prosaicas.
Quando meu pai engajou-se na igreja –
no chamado ‘movimento leigo’ – passou também a “administrar” o bar da barraca
da Diocese, onde aconteciam também os leilões. Acho que a escolha deveu-se à sua
grande experiência pretérita com bebidas. Fato é que tudo ia bem. Eu ficava por
ali, peruando, comendo churrasquinho com refrigerante, pipoca, rolete de cana.
Certa noite, o comerciante e amigo Luiz
Manoel de Oliveira disputava uma galinha assada com alguém de quem não me lembro. Apenas sei que o camarada era
irritante. A cada lance de seu Luiz, a criatura acrescentava R$ 0,50. Os
leiloeiros eram José de Paula Bantim, um brincalhão de marca maior, e “Biloto”,
sujeito que percorria as mesas oferecendo a prenda a arremate.
Mais um lance de R$ 0,50 centavos
e vinha o grito: “R$ 100,50 que é pra seu Luiz não comer frango hoje!”. Seu Luiz
já estava vermelhinho: de rir e de umas e outras que havia tomado. E tascava: "R$
110,00...R$ 110,50...R$ 120,00... R$ 120,50..." E a galinha ficando cara.
Juro que não me recordo por quanto saiu a penosa, que era oferecida envolta em papel celofane laranja.
Mas, lembro que, logo após ao “Dou-lhe uma, dou-lhe duas, dou-lhe três...Tô
entregando, já entreguei” (claro que na mesa de seu Luiz), o safado do ‘Biloto’
tomou o microfone das mãos de Bantim e
saiu-se com essa:
“Eita! Galinha desse preço só quem
come é Luiz Manoel e galo!!”
Até a virgem da Penha corou.